segunda-feira, 21 de março de 2011

Under Pressure

Voce quer meu lugar.Eu sei que quer.Mas voce não o terá até que eu chegue aonde quero.
Voce fica me espiando,me pressionando.Ambos sabemos que é só uma questão de tempo.
Mas eu estou tranquila,minha hora já está chegando.Eu já estive aí onde voce está agora...mas la no começo.Já paguei o que tinha que pagar,já batalhei tudo o que tinha que batalhar.Agora só me resta o descanso.O merecido descanso.
Eu sei que quando sair daqui,desse lugar que tantos invejam,vai ser aquela prova de fogo.Aquela à qual só os fortes sobrevivem,a luta pela tão sonhada liberdade.
Mas valeu a pena.


Voce quer ajuda com o seu fardo?Esse que voce esfrega com tanta gentileza em meu rosto.
Talvez queira que eu o carregue pra voce,sabe como é né,estou melhor colocada.

Estamos quase lá.Já passamos da fase em que eu podia não querer alguém do meu lado.Em que todos tinham esse direito e respeitavam,num acordo silencioso.Já passamos da fase em que estão todos posicionados,em que ninguém está fora do lugar.

É,esse é o meu sinal.A luz laranja foi acionada,voce agora ja pode começar a se mover,de preferência rápido,outros também estão de olho em mim.

Ou mais precisamente: no meu banco.
Calma,amigo,eu já estou de saída.

Fique com o ar pra voce.Voce e mais essas outras 6x10²³ de pessoas.
Fique também com o meu braço,já que faz tanta questão.Tenho ainda um braço que é pra me segurar.
Não me importa,estou livre.
Qualquer lugar,faça chuva ou faça sol,é melhor do que aqui.

Opa,opa,opa.Quero sair,quero descer."Licença.""Com licença.""Licencinha""Por favor.""Vou descer."

Meu Deus do céu,mas será que dá pra voce fazer o seu trabalho e parar no ponto certo?Não quero que  voce pare o mundo,só o ônibus.

Pare o ônibus que eu quero descer!

E agora?Grito?Bato palmas?Xingo?



Pego meu braço de volta e bato com ele em sua cabeça?O que eu faço?

Querem tirar minha liberdade,meu direito de ir e vir.De subir e descer.

Me privam o ar.Me arrancam o braço.A mochila vai pelo mesmo caminho.

Tento mais um pouco.Sou até capaz de te ceder o outro braço se voce sair do meu caminho.
Aí.Finalmente.Ar puro,brisa e chuva.
Agora são só 2 Km e/ou um ponto pra trás e estou em casa.
Rezo para que alguém esteja no portão,de outra forma não sei como conseguirei entrar em casa.Minhas chaves,braços e alguns fios de cabelo ficaram lá dentro,no ônibus.

Depois vem dizer que o mundo está cada vez mais individualista.
Desculpe-me Senhor Sociólogo,mas só quem já pegou ônibus sabe que dividimos até a alma ali dentro.
O espaço físico individual é deixado do lado de fora.É a regra.

E ai de voce se empurrar: aí vira ofensa,e na hora em que voce finalmente escapa,milhares de rostos ficam te julgando pela janela:"empurrou pra quê,pô?Era só pedir licença"

Um comentário:

  1. é isso mesmo, ele ficam com tudo, e sem contar aqueles burros que ficam na porta,

    : se não quer ser empurrada, sai da frente bruxa!
    um cara no busão esses dias falando pra mulher/poste que tava em frente a porta.

    Sem contar aquelas brigas de estresse alto:

    quer espaço? pega um taxi!

    tenso.

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