Nublado

 Who says -John Mayer

Pra quem olhasse de fora, aquela seria apenas mais uma cena de uma garota entediada olhando pela janela.

Pra quem olhasse de fora,aquele meio sorriso que agora aparecia nos lábios da garota seria um sorriso sem sentido.

Pra alguém que nada soubesse da situação,a vista além da janela seria uma vista sem atrativo algum.Mais até, seria uma vista feia.Mas para ela não.

Ela olhava para fora completamente encantada.Ela tinha acabado de se dar conta de uma coisa que,podia não mudar agora,mas sem dúvida mudaria sua vida com o passar do tempo.

O céu estava nublado e tudo o que se podia ver além de cinza,eram os contornos dos prédios e das casas.Algumas árvores ressaltavam e alguns passarinhos paravam de vez em quando no parapeito da janela.
Indiferente á todo o clima,indiferente á todos naquela sala,a garota estava perdida em seus próprios pensamentos.

Os pensamento em sua cabeça passavam tão rápido que só ela mesma poderia entender.


Agora ela deixaria todas as coisas que não estavam ao seu alcançe rolarem.Seria tão feliz quanto pudesse ser naquele dia e pronto.
Sorriria tanto quanto tivesse vontade e se permitiria desanimar.
Falaria alto ou baixo,alegre demais,ou ríspida demais.Apenas falaria.
Sentiria o que sentisse na hora e não se julgaria por isso.
Ficaria irritada apenas o suficiente para aliviar.Sem mais irritação,nem menos.

A garota da janela respirou fundo e depois deixou todo o ar sair com calma.Tinha feito barulho,sabia disso.Mas não ligava.

Ela pensou que quando tudo está nublado nós não conseguimos ver porque queremos ver além do que podemos.Pensou também que nublado é,afinal,uma definição concreta do tempo.


Ela não tentaria mais enxergar o número da casa em frente ao prédio onde estava.
Não com esse tempo.
Não tentaria ver se iria fazer sol mais tarde.Talvez fizesse,talvez não.
Idependente dela estar vendo ou não,os passarinhos em algum lugar ali perto cantavam.

Ela seria assim agora: como um passarinho.

Voando em dias nublados e cantando mais alto em dias ensolarados.

Podia ser que voasse sozinha,as vezes,mas ela não acreditava realmente nisso.


A realidade libertadora era que ela voaria.Pra onde quisesse.Pra onde pudesse.


De repente não era só ela quem admirava o passarinho pousado na janela.Todos da sala o observavam com encanto.
O passarinho voou,entao,mas ela não conseguiu ficar triste.Outro passarinho, até então escondido,apareceu  pra voar com ele.

"Don't remember you looking any better
But then again I don't remember you"

Dizem para ser sempre voce mesma.

Mas voce ja parou pra pensar realmente nisso?